Printer Friendly Version Presidente Vučić: Nós decidimos - o nosso objectivo é a UE, mas a China é um parceiro importante @ 28 July 2021 10:59 AM

Nós decidimos - o nosso objectivo era e continua a ser a UE, disse o Presidente sérvio Aleksandar Vučić numa entrevista ao diário alemão “Handelsblatt”, acrescentando que não há alternativa para a Sérvia, sublinhando, no entanto, que a China é um parceiro importante para a Sérvia e que é tarefa do Estado zelar pelos interesses dos seus cidadãos.

Respondeu assim, por consequinte, à pergunta sobre o que a Sérvia escolherá quando tiver de optar entre ter relações próximas com Pequim ou a UE. Vučić salientou que a Sérvia deseja tornar-se um membro de pleno direito da UE.

“Estamos unidos pela história, pela cultura comum; os membros da UE já são, sem dúvida, os nossos parceiros mais importantes”, explicou, acrescentando que as transações comerciais entre a Alemanha e a China são 3.000 vezes superiores às operações comerciais entre a Sérvia e a China e, no entanto, estas são consideradas um problema.

À afirmação de que a chanceler alemã, Angela Merkel, não felicitou a China pelo 100º aniversário do Partido Comunista, enquanto ele o fez, retorquiu que a Sérvia não é a Alemanha, mas um pequeno país. Perante a insistência do que a Sérvia fará se tiver de escolher entre a UE e a China, Vučić sublinhou que a Sérvia já decidiu, que o seu objectivo era e continua a ser a adesão à UE. “Os nossos maiores investidores são da UE.

A UE representa 67% das nossas transações comerciais, enquanto apenas 17% são realizadas com países da região, os quais estão todos a caminho da UE. Não podemos sobreviver sem a UE”, acrescentou.

“Mas podemos alcançar muitas coisas positivas com a China - é claro. E é o que fazemos, tal como a Alemanha o faz”, frisou Vučić; e à observação de que a qualidade dos projectos do Silk Road estava a ser criticada, principalmente devido aos trabalhadores chineses, ripostou que a qualidade das estradas e pontes que a Sérvia está a construir com a China é excelente.

“Entregamos o trabalho a quem nos apresenta a melhor oferta. Por isso digo aos europeus que criticam os projectos chineses no nosso país - ofereçam-nos um projecto por mais um euro e recebêlo-ão”, frisou.

Ainda a esse respeito, salientou que a Sérvia está a construir uma via férrea para a Macedónia do Norte com 600 milhões de euros de ajuda da UE, afirmando que essa oferta era melhor do que a da China.

“Fala-se frequentemente da via férrea de 180 quilómetros até Budapeste, através do território da Sérvia, a qual é financiada pela China. Mas a via férrea que está a ser construída com a ajuda da UE, de Belgrado à fronteira da Macedónia do Norte é duas vezes mais longa e ninguém fala nisso. Tudo isto é política”, afirmou.

Questionado sobre se aprova os planos da UE e dos EUA em relação a uma alternativa à Rota da Seda, Vučić declarou que apoia tudo o que traga vantagens para a nossa região.

“Os chineses querem ampliar a sua presença, mas muitos processos no ocidente são, francamente, mais eficientes e ordenados. Ainda temos muito que aprender com o ocidente, mas estamos no bom caminho”, afirmou Vučić.

Salientou que a China é um parceiro importante para a Sérvia e acrescentou que, quando teve início a consolidação das finanças do Estado, em 2014, o nosso país obteve da China boas condições para projectos de desenvolvimento.

Afirmou ainda que foi apresentado um concurso para uma mina de cobre no leste da Sérvia, a pedido da UE, para o qual nenhuma empresa europeia fez qualquer oferta durante seis meses, tendo a mesma sido adquirida pelos chineses.

“A nossa função é zelar pela nossa gente”, afirmou.

Lembrou que a economia sérvia cresceu 52% em oito anos e meio, o que, para a UE, significa que a Sérvia pode ser um membro forte e o motor de toda a região.

Explicando como a Sérvia se está a desenvolver tão bem economicamente, salientou que a Sérvia possui uma excelente força de trabalho, que fala inglês, a sociedade e a administração são digitalizadas e possui as leis de trabalho mais flexíveis da Europa, assim como finanças públicas consolidadas.

Lembrou que previamente a dívida pública estava em 78% do PIB e que hoje diminuiu, graças ao forte crescimento económico, para 52%.

“Hoje podemos dar incentivos aos investidores para virem”, acrescentou, salientando que a Sérvia oferece assistência ao investimento, mas que os subsídios não foram o motivo da vinda do centro de desenvolvimento da empresa Continental, por exemplo.

Sublinhou que, há cinco ou seis anos, apenas a Sérvia adoptou o sistema dual de ensino na região, o qual é também utilizado pela Alemanha, a Suíça e a Áustria, e que dezenas de milhares de pessoas estão em ensino dual, o que é valorizado pelos investidores estrangeiros que, desta forma, podem também trabalhar em estreita colaboração com as universidades.

A Alemanha, afirmou, é o mais importante parceiro comercial e o maior investidor.

Começámos com a chegada de pequenas empresas têxteis da Turquia e, agora, são principalmente as grandes empresas alemãs que se instalam no país. Hoje, 71 mil pessoas trabalham em empresas alemãs na Sérvia”, declarou.

Vučić assegurou que a perspectiva europeia é de extrema importância para os investidores, afirmando que a Nidek, a Toyo Tyres ou a Mitsubishi vêm do Japão para a Sérvia porque o nosso país está num caminho europeu estável.

Questionado se acredita que a Sérvia se tornará membro da UE num futuro próximo, afirmou não ter reclamações.

“Certamente que se tivéssemos recebido 45 bilhões de euros de ajuda da UE, teríamos chegado muito mais longe economicamente. Em vez disso, recebemos 1.6 bilhões de euros da UE. Estamos acostumados a ter de alcançar os nossos sucessos por nós próprios”, afirmou Vučić.

O Presidente da Sérvia lembrou que na Croácia os salários eram 2.2 vezes mais elevados que na Sérvia e hoje são apenas 1.7 vezes mais altos.

“Estamos a fechar a lacuna com o nosso próprio esforço. Se nos tornássemos membros da UE, certamente que não iríamos pedir os maiores subsídios”, garantiu.

Afirmou que o caminho sérvio segue o caminho alemão para a Europa e que a Sérvia quer uma oportunidade justa.

“Acredito nas palavras de Merkel. A chanceler está no final do seu mandato e eu não teria por que elogiá-la. Mas ela deu-nos estabilidade, liberdade de viajar para a UE, ajudou-nos com a crise migratória em 2015 e induziu o Ministro da Economia, Altmeier, e outros a trabalharem em estreita colaboração connosco”, lembrou.

Questionado sobre se havia alguma indicação de que o novo governo alemão apoiaria a Sérvia da mesma forma, Vučić expressou confiança de que o mesmo iria acontecer.

“Conheço Armin Laschet, conversei com ele quando era Ministro-Presidente da Renânia do Norte-Vestfália. É muito inteligente e compreende a situação nos Balcãs; certamente que, como novo chanceler, continuará a política de Merkel em relação à nossa região”, acrescentou.

Vučić expressou ainda a convicção de que a Rússia, caso a adesão da Sérvia à UE se concretizasse, não reagiria da mesma forma que no caso da Ucrânia, visto tratar-se de uma decisão soberana da Sérvia.

A uma pergunta adicional a este respeito, Vučić salientou que sempre que se encontrou com Vladimir Putin, num total de 18 ou 19 reuniões, este lhe confirmou congratular-se pela estreita amizade com a Rússia, mas também pela Sérvia estar num claro rumo à UE.

Perguntou se era essa a nossa escolha e eu respondi-lhe que a adesão à UE é, de facto, o nosso objectivo”, acrescentou.

No que se refere ao “Kosovo”, Vučić frisou ser necessário um compromisso relativamente a esta questão.

“Só assim pode haver uma paz sustentável. A Sérvia quer paz, eu também. Vamos parar com a loucura do passado. Só então toda a região pode tornar-se o motor de um novo crescimento para a Europa”, afirmou Vučić.

***